É bem claro que o plástico é um problema ambiental muito sério. Mas o problema desse polímero tão útil é ainda maior que as ilhas de lixo flutuando no Pacífico e no Atlântico. A essência da questão é que o plástico é um material extremamente viável economicamente: ele é facilmente moldável, transparente e, sobretudo, barato.
No outro lado da balança, temos um material que permanece por centenas de anos na natureza, prejudica habitats e que também gera emissões de carbono na sua produção e extração de matéria prima. Além do mais, atualmente, a poluição das praias e oceanos está nos holofotes devido às cenas chocantes de animais frequentemente mortos por consequência de matérias plásticos. Fora isso, ainda temos os microplásticos: resíduos microscópicos (em geral menores que 5mm) de diversos tipos de polímeros que podem ser ingeridos por microrganismos, magnificando-se na cadeia alimentar, de forma que a poluição alcance até mesmo – quem diria – nós, humanos. Isso é bastante preocupante, sobretudo, porque muitos desses pequenos resíduos são tóxicos, a diversos níveis.
Dito isso, é dimensionável que os plásticos são materiais bem peculiares. E essa peculiaridade está envolvida com a polimerização. Basicamente, um polímero é uma corrente de pequenas moléculas que, juntas, formam um material maior. Quando um plástico é degradado, essas moléculas se separam e, como são menores, eventualmente são ingeridas por microrganismos. O plâncton, nesse contexto, é um conjunto desses microrganismos, juntamente com alguns invertebrados, que são diretamente afetados por esses plásticos. Os resíduos são ingeridos pelo plâncton, que é comido por alguns invertebrados maiores, que por sua vez são ingeridos por peixes, e assim os microplásticos se espalham na cadeia alimentar.
Essa degradação dos plásticos ocorre de diversas formas, seja pela luz ultravioleta, pela temperatura, abrasão, e assim por diante. O lixo presente na superfície dos oceanos, por exemplo, está exposto a enormes quantidades de radiação UV. Nas praias, a situação é ainda pior, pois a abrasão da areia e a alta temperatura aumentam a facilidade da quebra dos polímeros.
Há evidências, ainda, de que os microplásticos podem aglomerar partículas tóxicas de outras fontes, presentes no mar, o que torna o efeito desse tipo de poluição especialmente drástico nos oceanos, devido à ampla gama de organismos filtradores, como ostras, o krill e até mesmo algumas aves marinhas. Isso quer dizer que esses animais retiram pequenas partículas da água como forma de nutrição, e aí, está feito o problema. As partículas tóxicas e o plástico são ingeridos, dessa maneira, pelos filtradores.
Esses efeitos podem parecer, à primeira vista, bastante distantes. Entretanto, o plástico DEHP (Bis (2-etilhexil) Ftalato), por exemplo, é potencialmente cancerígeno. Outros podem interferir no sistema hormonal humano, como o BPA (Bisfenol A). Fato é que as consequências gerais ainda não são bem claras, mesmo que microplásticos tenham sido encontrados em cervejas, mel, sal e até mesmo em poeira de casas. Ftalatos – uma classe de plásticos bem comuns – são encontrados no organismo de praticamente todo ser humano adulto, e em aproximadamente 8 em cada 10 bebês. Ademais, algumas pesquisas mostram que em torno de 90% da população pode ter BPA presente na urina.
Infelizmente, a solução de toda essa situação não é simples, justamente pela importância econômica do plástico. Mas é possível, sim, reduzir o impacto ambiental e sanitário por atitudes individuais e coletivas. Apenas uma pequena parte (em torno de 10%) do plástico produzido anualmente, por exemplo, é reciclado. Reduzir a os plásticos desnecessários, como sacolas de mercado, embalagens descartáveis, canudos, copos, também é uma atitude que, conquanto pequena, ajuda bastante na melhora. Uma coisa é certa, o planeta já tem muito plástico flutuando nos oceanos e rios por aí, e essa não é uma responsabilidade de apenas um ou dois países, é a nossa responsabilidade como espécie, supostamente, evoluída.
Até mais e obrigado pelos peixes. Digo, pela atenção.
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