Você, caro leitor, já passou por um rio, lago ou mesmo um aquário com uma cor verde-musgo muito intensa e se perguntou que diabos estava acontecendo ali? Independentemente se sua resposta foi afirmativa ou negativa, aquela coloração estranha da água é um fenômeno de poluição que é intensificado pela ação humana. Explico.
Os ambientes aquáticos, sejam rios, lagos, ou oceanos, possuem, por mais que não aparentem, uma biodiversidade que vai muito além dos peixes. Por estranho que possa parecer, a maior parte da diversidade viva das águas do mundo é microscópica ou, ao menos, muito pequena. As algas, por exemplo, são as principais responsáveis pela produção de oxigênio que nós, primatas ansiosos, respiramos (lembrando que algas não são necessariamente aquelas coisas que parecem plantas na água, elas também podem ser microscópicas). Existem também bactérias, que decompõem os seres vivos mortos; os filtradores, que retiram pequenas partículas orgânicas da água; até mesmo algumas plantas estão presentes na água.
Muitas dessas algas e bactérias citadas acima, compõem o fitoplâncton: um conjunto de microrganismos aquáticos que fazem fotossíntese – assim como as plantas. Ainda que esses organismos produzam sua energia a partir da luz solar, eles precisam absorver nutrientes do meio para completar esse processo. Geralmente, compostos ricos em potássio, sódio e fósforo são essenciais para o metabolismo do fitoplâncton. Acontece que esses nutrientes também estão presentes em diversos tipos de resíduos produzidos pela habitação humana, como esgoto e fertilizantes, sobretudo.
Então, se estamos dando os nutrientes que o fitoplâncton precisa, tudo bem, certo? Na verdade, não. Para variar, esses resíduos de esgoto e fertilizantes possuem quantidades elevadíssimas de matéria orgânica. Isso faz com que as algas e bactérias fotossintetizantes-que têm ciclos de vida bastante rápidos- se multipliquem loucamente. Com o aumento da população, a taxa de mortalidade desses microrganismos também cresce, e eles precisam ser decompostos. Todavia, o processo de decomposição necessita de oxigênio para ser executado pelos microrganismos decompositores. Estes, então, consomem muito mais O₂ do que o normal, o que acaba asfixiando os outros animais que estão na água e precisam de oxigênio dissolvido para sobreviver, como os peixes.
Com mais criaturas mortas e pouco oxigênio, cria-se um ambiente ideal para bactérias anaeróbicas (que não precisam de oxigênio para sobreviver). Essas bactérias começam a consumir a matéria orgânica, deixando resíduos de enxofre e metano que, além de terem um cheiro muito ruim, são tóxicos. Tanto a floração das algas aeróbicas como a reprodução das bactérias anaeróbicas acabam bloqueando a luz que entra na água, que é essencial para recifes de corais no oceano, por exemplo.
Tendo dito isso, esse processo de eutrofização é um problema bastante sério, primeiramente, porque ele causa a morte da biodiversidade aquática, o que em alguns ambientes pode levar até mesmo à extinção de espécies inteiras. Em segunda instância, o tratamento da água para ser distribuída para a população também fica muito mais caro, uma vez que a água fica cheia de bactérias e compostos tóxicos. Esse é apenas um dos problemas causados pela má gestão dos resíduos humanos, não só nos rios e mares, mas em terra firme também. Os sistemas ecológicos do mundo são muito frágeis às nossas atividades e paradoxalmente também são fundamentais para a nossa produção de alimento, água potável e outros tantos recursos que você, caro leitor, usa todos os dias.
Até mais e obrigado pelos peixes. Digo, pela atenção.
Referências:
CRASH COURSE. Youtube, 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=5eTCZ9L834s>. Acesso em 28/06/20.
ATLAS PRO. Youtube, 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=mLbDbmmV6Qc>. Acesso em 28/06/20
ME SALVA! ENEM 2020. Youtube, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=KGOU9sT6hVA>. Acesso em 28/06/20.
BARRETO, Luciano Vieira. Eutrofização em rios brasileiros. Enciclopédia Biosfera, 01/07/2013. Disponível em: <https://www.conhecer.org.br/enciclop/2013a/biologicas/EUTROFIZACAO.pdf>. Acesso em: 28/06/20.
GLIBERT, Patricia M. The role of eutrophication in the global proliferation of harmful algal blooms. Oceanography. 06/2015. Disponível em:<http://chnep.wateratlas.usf.edu/upload/documents/EutrophicationAndHABs.pdf>. Acesso em: 28/06/20.
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