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mateusmarchetto200

De lobos a chihuahuas

Atualizado: 12 de set. de 2020

O que diferencia uma jaguatirica dos gatos domésticos? E um lobo dos cães que estão em nossas casas? À primeira vista, animais domésticos e animais selvagens podem parecer bastante semelhantes. Algumas pessoas, inclusive, criam animais selvagens dentro de suas casas, como pets. Mas a domesticação que será tratada aqui messe post se refere a um processo muito mais complexo e demorado do que a criação doméstica de animais selvagens. Afinal, como os ferozes lobos cinzentos podem possivelmente ter dado origem a um chihuahua?

Como dito acima, a domesticação é um processo que levou, em geral, milhares de anos, e está intimamente ligado à evolução da espécie humana. Vamos pensar em geografia, por um momento. Sabe-se hoje, teoricamente, que a origem da espécie humana se deu no Continente Africano e irradiou para o Oriente Médio, e que o último ancestral comum dos humanos e demais primatas viveu em torno de 6 milhões de anos atrás. Vale ressaltar que nós – Homo sapiens sapiens – não fomos a única subespécie de humanos a andar na terra. Sim, já existiram outros humanos por aqui, mas estão todos extintos, provavelmente por nossa causa. É o caso do Homo erectus, que inclusive esteve presente na terra por muito mais tempo do que nós estamos hoje. Enfim, acontece que entre 12.000 AC e 8.000 AC houve um período de chuvas e umidade bastante intenso na região onde os H. sapiens habitavam. Isso abriu um horizonte de possibilidades para a domesticação de algumas plantas selvagens que tinham características interessantes para nós (Lembre-se, cara/o leitora, que a domesticação ocorre com plantas também). Vegetais como o trigo, milho e o arroz também foram domesticados em regiões e épocas diferentes, mas por processos semelhantes de seleção e cruzamento de características.

No que refere aos nossos pets, em vez da nossa salada, existem três processos principais de domesticação: o caminho comensal, o caminho da presa e o caminho direcionado. No primeiro caso, precisamos nos lembrar que comensal é um indivíduo que se beneficia de outro sem causar prejuízo ou benefício. Provavelmente foi assim que, incrivelmente, surgiram os chihuahuas. Explico: quando uma tribo de humanos caçava um animal muito grande, em geral havia sobras de comida que não eram aproveitadas. Estas sobras, descartadas nos arredores, eram muito bem recebidas pelas matilhas de lobo próximas. Com o passar de centenas de anos, os lobos que tinham um comportamento mais manso e ajudavam na caça, acabaram se tornando mais próximos dos humanos, vivendo junto com as tribos. Muito astutos, os H. sapiens selecionaram diversas características que eram interessantes para a nossa espécie. Mais recentemente, diversas subespécies de cães foram criadas a partir de cruzamentos selecionados e intensivos. Os gatos também foram domesticados por esse caminho, todavia, os felinos são difíceis de manter sob controle. Dessa forma, gatos domésticos e gatos selvagens mantiveram mais características em comum por meio de cruzamento e, por isso, não temos gatos chihuahuas por aí.

O caminho da presa foi o que ocorreu em geral com animais que eram caçados, como bovinos e suínos. Ao longo do tempo as tribos humanas perceberam que talvez fosse melhor prender esses animais e cria-los em cercados, de forma que fosse mais rápida a obtenção de comida. Nesse caso, animais mais mansos e mais preferíveis pelo consumo de sua carne ou leite foram selecionados e difundidos nas comunidades.

Por fim, o caminho direcionado foi o que ocorreu, de forma geral, com animais de carga como cavalos, camelos e burros. Por não serem utilizados como alimento, esses animais foram selecionados principalmente pela força e tamanho corporal e podem ter sido úteis no transporte de equipamentos, cargas e dos próprios humanos.

Animais domésticos, além de mais mansos e sociáveis, em geral apresentam uma redução na massa cerebral em relação aos seus parentes selvagens. Isso não ocorre porque os pets sejam menos inteligentes, mas simplesmente porque os seus territórios e necessidades são muito mais restritos no ambiente doméstico. Isso ocorreu, inclusive com os humanos. Os H. sapiens de vinte mil anos atrás eram provavelmente muito adaptados ao seu estilo de vida de caçadores-coletores e, desse modo, tinham sentidos muito mais aguçados e qualidades físicas mais acentuadas do que os humanos modernos e, por isso, tinham um volume cerebral maior.

Assim como os seres humanos se espalharam e multiplicaram imensamente pelo planeta, os animais domesticados pegaram carona nessa explosão populacional. Existem hoje mais de 500 milhões de cães e no planeta, o mesmo ocorre para os gatos. Os porcos atingem o número de 980 milhões e as galinhas, pasme, 20 bilhões. Evidentemente, a superpopulação de humanos e animais domésticos é um problema extremamente sério para o ambiente, a pressão pela necessidade de recursos é muito grande. Mas isso é assunto para outro post. Por fim, todas as informações presentes aqui foram produzidas por incontáveis estudos e métodos, desde análise de comportamento dos nossos animais à investigação de fósseis de humanos e animais selvagens. Muitos indícios de domesticação, por exemplo vêm de rituais de enterro de membros de tribos, onde cães ou gatos eram enterrados com seus donos, indicando uma relação profunda entre os sapiens e os pets. Portanto, da próxima vez que você se perguntar o motivo da sua ligação tão próxima com o seu cão ou gato, lembre-se: suas espécies evoluíram juntas.


 

Referências:

PBS EONS. Youtube, 2019. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=nDt0HKSdRRw >.

PBS EONS. Youtube, 2019. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=kZoTvXvV02A >

NERDOLOGIA. Youtube, 2019. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=5pO6FFV-NoE >


SCIENCEDIRECT. The Evolutionary Imprint of Domesticationon Genome Variation and Function ofthe Filamentous FungusAspergillus oryzae. John G. Gibbons, Leonidas Salichos, Jason C. Slot, David C. Rinker,Kriston L. McGary, Jonas G. King, Maren A. Klich, David L. Tabb, W. Hayes McDonald, Antonis Rokas. Disponível em: < https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0960982212005866 >


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