Toda espécie é dependente das variações do ambiente onde habita. A temperatura pode aumentar ou diminuir muito, a disponibilidade de alimento pode ser reduzida, períodos de seca podem ocorrer e assim por diante. Sob essas pressões exercidas pelo planeta, cada organismo tem três opções: fuga, conformação ou regulação.
A fuga de um ambiente desfavorável é, bem basicamente, o deslocamento do organismo para um lugar com condições ou recursos melhores. A conformação, por outro lado, é a adaptação a curto ou longo prazo do organismo a um determinado ambiente. Por exemplo: um peixe, em geral, varia sua temperatura corporal conforme as variações de temperatura da água - pois o animal se conforma ao ambiente. Diferentemente, nós, humanos, mantemos uma temperatura corporal constante (mais ou menos 37°C) apesar das variações do ambiente e nesse aspecto, portanto, somos reguladores.
Contudo, o processo de fuga pode ocorrer periodicamente em diversas espécies. Faz sentido, não? Quando o ambiente está desfavorável, o animal se movimenta para outro lugar mais adequado. A esse processo de movimento repetido entre ambientes dá-se o nome de migração e ele é bastante comum em inúmeras espécies, desde insetos até mamíferos.
Vejamos alguns exemplos.
Caribus, as famosas renas dos desenhos animados de natal, são mamíferos terrestres migrantes que habitam a região da tundra e florestas de coníferas de latitudes mais elevadas. Existe uma subespécie de rena, especialmente, que realiza a maior migração registrada em mamíferos terrestres: O Caribu de Grant ou Caribu porco-espinho faz quase 5.000 quilômetros de viagem por ano.
Ainda falando de mamíferos, temos as baleias, alguns dos animais com migrações mais longas no reino animal. As baleias Jubarte, por exemplo, migram do polo sul para regiões equatoriais em busca de águas mais quentes para a reprodução e também obtenção de alimento. Esse deslocamento pode se estender por até 11.000 quilômetros ao longo de três meses nos quais os animais adultos não se alimentam, sobrevivendo apenas de reservas energéticas.
Alguns peixes também realizam migrações bastante incríveis, como o Salmão. Algumas espécies desse peixe podem viajar até 3.000 quilômetros entre água doce e água salgada, o que envolve processos fisiológicos e hormonais extremamente complexos. Geralmente o objetivo principal dessa migração é a reprodução em ambientes mais favoráveis.
As aves, contudo, são as campeãs no que diz respeito à migração. A andorinha-do-mar do ártico viaja do Canadá ao Polo Sul num trajeto de aproximadamente 30.000 quilômetros. Não suficiente a distância, ainda há os gansos-cabeça-listrada que podem migrar a altitudes de 9 mil metros, sobrevoando, inclusive, o Himalaia. Como pode-se imaginar, ambos os casos são excepcionais e refletem bem a diversidade de processos migratório
s e adaptações fisiológicas de cada espécie.
Mas afinal, por que animais migram?
De forma bastante geral, para evitarem condições extremas no ambiente. Um animal migra milhares de quilômetros, às vezes, buscando alimento, climas favoráveis e sobretudo, reprodução. Esse último motivo é bastante importante pois a reprodução demanda bastante energia, seja para o processo de acasalamento em si, seja para o cuidado com os filhotes. Desse modo, vários animais precisam encontrar lugares mais seguros para perpetuar a espécie.
Evidentemente essa mudança periódica de região é um processo biológico bastante complexo que ocorre em escala global e é essencial para grande parte da biodiversidade planetária. Tendo isso em vista, mais uma vez nós, humanos, estamos perturbando a delicada dinâmica ambiental. Os Caribus vêm perdendo habitats importantes devido ao aquecimento global, quando não ameaçados por caça ilegal. As Jubarte sofrem a influência humana pela poluição da água em seus trajetos de migração, bem como pela própria habitação em áreas costeiras, o que provoca diversas mudanças comportamentais nos animais, alterando seus trajetos de deslocamento e balanço energético.
A poluição aquática também é um problema para o Salmão, além da interrupção de trajetos de migração devido à construção de hidrelétricas, barragens e afins. As aves migratórias sofrem profundamente também pela mudança climática, uma vez que seus trajetos originais não oferecem mais as condições ambientais ideais buscadas outrora pelos animais.
Vale lembrar que os próprios seres humanos são animais migratórios. Acredita-se hoje que os primeiros Homo sapiens surgiram na região norte África e daí migraram para todo o resto do planeta, primeiro colonizando a Europa, em seguida a Ásia, América e Oceania. Diversas crises sociopolíticas têm emergido atualmente na Europa mediterrânea e oriental, por exemplo, por esse comportamento que é comum a grande parte dos animais com os quais compartilhamos o planeta. Nos próximos anos, ainda, caso o aquecimento global continue em seu ritmo pós revolução industrial, diversos movimentos massivos migratórios podem acontecer das regiões mais quentes do planeta para as mais frias.
Nossa própria espécie, por conseguinte, pode estar na mesma situação na qual estamos colocando outras nesse momento, com uma diferença de algumas dezenas de anos. Uma analogia bastante triste, de fato, mas digna de reflexão.
Até mais e obrigado pelos peixes. Digo, pela atenção.
Referências:
PINTO, Cynthia de Oliveira. As grandes migrações continentais. UniCeub. Disponível em: < https://repositorio.uniceub.br/jspui/handle/123456789/2446 >
SCISHOW. Youtube. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=VBuvkktZoYE >
PBS EONS. Youtube. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=xmboVmtqNJc >
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