Por mais naturais que possam parecer, as florestas e plantações de árvores exóticas como as do gênero Pinus representam, na verdade, uma ameaça enorme à biodiversidade. Isso pois os pinus estão ocupando o lugar que previamente era de árvores nativas e que talvez só existissem em locais bastantes restritos em todo o mundo. Outro exemplo desse comportamento é o do peixe-leão (Pterois sp.), que há alguns anos vêm ocupando as águas da América Central. Além de venenosos, esses peixes competem com as espécies nativas pelos recursos e, em geral, se dão bem porque não têm predadores naturais na região. Esses dois casos são relacionados a uma perturbação ecológica bastante séria e abrangente: a contaminação biológica ou introdução de espécies invasoras.
Assim como outros fenômenos ecológicos – como o aquecimento global e os demais já relatados aqui no blog – as espécies invasoras já ocorriam naturalmente antes de nós humanos interferirmos. Porém, nós intensificamos bastante esses processos. Fizemos isso, primeiramente por descuido e, em outros patamares, por necessidades nutricionais, econômicas ou culturais. Espécies aquáticas por exemplo, podem ser introduzidas em um novo ambiente por via da água de lastro de navios (água do mar armazenada no navio para manter o equilíbrio da embarcação). O mexilhão-dourado (Limnoperma fortunei) foi levado provavelmente dessa maneira à bacia do Rio da Prata, na Argentina. Hoje essa espécie causa um enorme problema para usinas hidroelétricas, nas quais os mexilhões se encrustam em hélices e paredes, dificultando o funcionamento do maquinário e causando alguns milhares de dólares em prejuízo todos os anos.
O problema vai além, ainda, dos aspectos econômicos, como esse citado acima. Acontece que, em um ambiente com poucas espécies, a introdução de um organismo invasor pode levar à extinção das espécies nativas facilmente. Aliás, quanto menor a diversidade, maior o risco. Isso ocorre porque o invasor passa a competir pelos mesmos recursos que os indivíduos do lugar invadido. Porém, as espécies locais ainda têm que lidar com os predadores já acostumados a predá-las, e os invasores não. Dessa forma, a contaminação biológica é a segunda maior causa de perda de biodiversidade no mundo, atrás apenas da destruição de habitats (como a derrubada de florestas, por exemplo).
Animais e plantas ornamentais, além do mais, também são frequentemente introduzidos em ambientes como espécies invasoras. É recomendado, por exemplo, que peixes de aquários nunca sejam soltos em rios e lagoas, justamente por este motivo. Eucaliptos e Pinus, frequentemente plantados para o comércio de madeira, são, também, invasores que consomem muitos recursos do solo e produzem resíduos que prejudicam o crescimento de outras plantas.
Algumas espécies invasoras de animais, por exemplo, podem ser combatidas com a introdução de predadores naturais ou mesmo com o estímulo caça ou pesca, como ocorre com as pítons birmanesas, na Flórida. Essas serpentes foram introduzidas nos Estados Unidos vindas da Ásia e comercializadas como animais de estimação. Hoje elas ameaçam toda a fauna nativa de mamíferos de pequeno e médio porte, sobretudo no estado da Flórida, ameaçando até mesmo a população de jacarés!Todavia, geralmente é difícil aplicar essas medidas de introdução de predadores ou estímulo de caça sem prejudicar ainda mais desequilíbrios no ecossistema.
Esse é o principal motivo para o cuidado e controle de espécies transportadas entre países ou estados. O tráfico ilegal de animais é um agravante do problema, dada a falta de cuidados para evitar a contaminação biológica, para não falar dos maus-tratos. Nesse sentido, quem possui ou possuirá animais ou plantas exóticos, portanto, possui também a responsabilidade de zelar pela segurança da biodiversidade e do animal ou planta que está sob seu cuidado. Essa mesma tarefa também é válida para donos de culturas de árvores exóticas, aquicultores, criadores de animais e etc. Somente assim, com responsabilidade, é possível combater um problema que ocorre muitas vezes em escala global e que causa danos severos à economia e irreparáveis à natureza.
Até mais e obrigado pelos peixes. Digo, pela atenção.
Referências:
DE LLANO, Pablo. Caçada à píton birmanesa, a espécie invasora que ameaça a Flórida. El país.09/03/2018. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/03/02/eps/1520014930_899565.html >. Acesso em 13/07/2020.
DE SOUZA, Rosa C.C.L. Impacto das espécies invasoras no ambiente aquático.Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Disponível em:<http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v61n1/a14v61n1.pdf>. Acesso em: 12/07/2020.
ZILLER, Sílvia R. Processos de degradação ambiental originados por plantas exóticas invasoras.Instituto Hórus de desenvolvimento e conservação ambiental. Disponível em:<http://institutohorus.org.br/download/artigos/Ciencia%20Hoje.pdf>. Acesso em 12/07/2020.
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